Diante do início de um novo tratamento farmacológico, são comuns as dúvidas: Devo tomar esse medicamento em jejum ou não? Por que o jejum é importante? Cuido de um idoso que não consegue engolir o comprimido, posso colocar o comprimido no pudim, na vitamina, na sopa, no mingau? Posso abrir a cápsula e “despejar o pozinho” no suco ou café?
O Pyloripac® (produzido pela Medley S/A Ind. Farmacêutica) é um medicamento que associa três princípios ativos: cápsulas de lansoprazol (para reduzir a produção de ácido pelo estômago), comprimidos revestidos de claritromicina e cápsulas de amoxicilina (dois antibióticos de mecanismos de ação diferentes). Essa associação é utilizada para tratar casos recorrentes de úlceras (feridas) no estômago ou duodeno (a porção inicial do intestino delgado) causadas pela presença da bactéria Helicobacter pylori. . Além disso, estima-se metade da população mundial seja H. pylori positiva (ou seja, são infectadas pela bactéria) e 16% desse grupo desenvolva úlceras e 1% desenvolva câncer.
Primeiramente, é preciso entender um pouco mais sobre as úlceras gástricas e duodenais: são feridas nas paredes do estômago ou duodeno, respectivamente. Isso ocorre porque a H. pylori é capaz de produzir diversas substâncias que degradam o muco que protege a parede desses órgãos. As células ficam, então, expostas ao ácido produzido no estômago e sofrem lesões. O resultado disso? Dores estomacais, náuseas, vômitos, sensação de queimação e outros sinais e sintomas. Se não tratadas corretamente, pode haver hemorragias digestivas e outras complicações.
O principal tratamento é a erradicação da bactéria em questão e aí é que entram os princípios ativos:
O LANZOPRAZOL é um inibidor da bomba de prótons (a enzima H+ K+ ATPase). Essa enzima atua na fase final da síntese de ácido clorídrico (HCl) no estômago. Assim, o lanzoprazol inibe a produção de ácido pelo estômago. Como esse princípio ativo perde sua ação se entrar em contato direto com ácido presente no estômago, ele recebe um tipo especial de revestimento para que o comprimido ou grânulos do interior das cápsulas só liberem o lanzoprazol no intestino (que não é mais ácido). Quando ingerido juntamente com alimentos, não atinge a concentração sanguínea necessária e o medicamento pode reduzir muito seu efeito. Portanto, o ideal é tomá-lo em jejum. Além do jejum, deve-se ter outros cuidados:
evitar o consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento com lanzoprazol, pois o álcool pode irritar a mucosa (a parede) do estômago;
não mastigar, esmagar ou partir o comprimido e grânulos das cápsulas, pois estes perderão o revestimento especial, o princípio ativo será exposto à acidez estomacal e será inativado (perderá seu efeito).
Ingerir, preferencialmente, pela manhã: pois assim, o máximo efeito do medicamento irá coincidir com o máximo de produção de ácido pelo estômago.
A AMOXICILINA é um antibiótico da classe das penicilinas e atua inibindo a síntese da parede celular das bactérias sensíveis. Com a parede celular “enfraquecida”, a célula bacteriana sofre um desequilíbrio nos seus componentes internos e morre. É capaz de penetrar em vários órgãos e fluidos do corpo humano e é muito eficaz no tratamento de infecções por H. pylori (raros casos de resistência).
Após a ingestão de uma cápsula, a amoxicilina é rápida e quase completamente absorvida pelo organismo (chega ao sangue), o alimento não interfere na absorção da amoxicilina e em 1-2 horas, já se atinge máximo de concentração no sangue. Portanto, pode ou não ser ingerida em jejum.
A CLARITROMICINA é, também, um antibiótico, mas de uma classe diferente: os macrolídeos. Atua inibindo a síntese de proteínas essenciais à vida da célula bacteriana. Assim como a amoxicilina, também, se distribui bem em vários órgãos e fluidos corporais. É bem absorvida, porém, na presença de alimento, essa absorção pode ser mais lenta, ou seja, o medicamento vai demorar mais a chegar no sangue. Assim, o ideal é ingerir em jejum.
Quanto à dúvida do leitor, você pode, sim, tomar os três comprimidos em jejum, seguindo as recomendações do seu médico. Lembrando que, considera-se jejum: tomar o medicamento 1 hora antes ou 2 horas depois das refeições.
Como orientação geral, sugere-se ingerir os medicamentos com água e em jejum, a não ser que seja uma recomendação médica ingeri-los após as refeições. Não misture medicamentos aos alimentos ou beba com leite, café, vitamina, pelo risco de interferência (ou interação) do medicamento com os alimentos, podendo reduzir tanto a eficácia do medicamento, quanto o valor nutricional do alimento (como no caso do cálcio do leite - Leia o post "Medicamentos vs leite"). Caso o paciente tenha dificuldades de engolir comprimidos e cápsulas, converse com seu médico e busquem alternativas seguras, mas que não irão comprometer o efeito do medicamento.
Siga as orientações de seu médico. Sempre que necessário, consulte seu farmacêutico e leia a bula do medicamento.
Referências
- LADEIRA, M. S. P.; SALVADORI, D. M. F; RODRIGUES, M. A. M. Biopatologia do Helicobacter pylori . Disponível em: www.scielo.br/pdf/jbpml/v39n4/18547.pdf .
- ANVISA - Bulário eletrônico. Bula Pyloripac. Disponível em: www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM%5B25885-1-0%5D.PDF
Bacana, ótima explicação. Parabéns aos farmas, também sou uma de vocês adoro o blog, indico e me orgulho! haha. Abraço, Raíssa farma
ResponderExcluirOs farmacêuticos deveriam ser mais valorizados, pois, na minha opinião, são os verdadeiros "doutores".
ResponderExcluirTirei também minha duvidas pois estou fazendo o uso do medicamento.Obrigado
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