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Anticoncepcionais e varizes, têm relação?

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"Gostaria de informações sobre a relação entre a utilização de anticoncepcionais e a ocorrência/aumento de varizes em pessoas que já possuem uma propensão genética a ocorrência das mesmas. Alguns médicos relatam que os anticoncepcionais de baixa dosagem não trariam riscos, outros dissem que sempre há. Existem estudos que comprovam a ocorrência de varizes e AVC relacionado a utilização dos anticoncepcionais? Os novos medicamentos reduzem os riscos?”

No nosso corpo, as artérias têm a função de levar o sangue do coração para as extremidades (pernas e braços) e as veias têm a função de levar o sangue de volta ao coração. Para ajudar nesse trabalho de levar o sangue contra a lei da gravidade, as veias têm pequenas válvulas que se abrem para a passagem do sangue e se fecham para impedir o seu retorno. No caso de quem tem varizes, essas válvulas passam a não funcionar adequadamente e deixam o sangue voltar e ficar parado dentro das veias, o que provoca alterações no contorno dos vasos. A figura abaixo ilustra o processo de formação das varizes:
É importante entender que existem varizes, que são veias dilatadas, com volume aumentado e que se tornam tortuosas e alongadas com o decorrer do tempo, e microvarizes, que são intradérmicas, superficiais e, por esse motivo, adquirem uma coloração mais avermelhada ou arroxeada. Ambos os tipos são mais freqüentes em mulheres e nesse texto trataremos como “varizes” ambas manifestações.

O principal fator para o desenvolvimento das varizes é o hereditário ou familiar. O fator genético ocasiona uma diminuição da resistência das paredes das veias (perda da elasticidade) e insuficiência valvular. Outra causa é o fator hormonal. Na mulher, qualquer alteração do estrogênio, como no uso de anticoncepcional, é fator agravante no quadro de varizes.

A grande maioria das pílulas anticoncepcionais é constituída a partir de dois hormônios femininos sintéticos: etinilestradinol (estrógeno) e progestágenos (progesterona). As primeiras gerações de pílulas com o etinilestradiol, que se mantém até hoje na composição dos contraceptivos, apresentavam no início altos conteúdos do princípio ativo, cerca de 100mcg, posteriormente passaram a 50mcg e, na atualidade, estão na faixa de 20 mcg ou menos. Todavia, são os progestágenos (minipílulas) que tem causado menos efeitos colaterais - o que significou ultimamente uma evolução expressiva da terceira geração de contraceptivos hormonais - segundo registro da Organização Mundial de Saúde/OMS.

Existe referência na literatura que usuárias crônicas de anticoncepcional têm maior pré-disposição a sofrer qualquer fenômeno tromboembólico - quando o sangue coagula, endurece, forma um trombo no vaso que migra e pode parar em uma determinada parte do corpo, como no cérebro. Esse fato aumenta o risco de trombose na perna, infarto e de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico que acontece por entupimento dos vasos que levam sangue ao cérebro. Esse risco não é muito grande, mas fica muito maior quando há associação com o cigarro ou aos demais fatores de risco, como histórico familiar de AVC, colesterol alto, idade avançada, diabetes e hipertensão.

Estudos demonstraram que o risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) é de 0.3 para cada 100 mil usuárias de anticoncepcionais e para os acidentes cerebrovasculares (AVC) o número cresce para 2.0, considerando o mesmo público analisado. Observa-se que esse último dado torna-se menor entre as mulheres com idade inferior a 35 anos, não fumantes e sem antecedentes de hipertensão arterial. Outro estudo conclui que não existe diferença de risco entre a segunda e terceira geração de anticoncepcionais, pois só os de primeira geração apresentam risco maior e, mesmo assim, na utilização desses últimos, as probabilidades diminuem se há controle da pressão arterial.

Os autores dos estudos advertem, entretanto, que as mulheres não deixem de usar anticoncepcional oral apenas baseadas nesses estudos, destacando que os resultados são preliminares e que há outras maneiras de diminuir o risco de doenças tromboembólicas, como: interromper o tabagismo, fazer exercícios físicos, ingerir menos sal e gordura, evitar consumo excessivo de álcool e ter controle freqüente da pressão e glicemia.

Recentemente, foram introduzidos no mercado alguns anticoncepcionais chamados progestágenos de "terceira geração", que contêm desogestrel ou gestodeno. Esses novos progestágenos foram desenvolvidos, em parte, porque ofereciam a possibilidade de diminuir ainda mais o risco cardiovascular. E, dados epidemiológicos indicam que o seu risco para doença tromboembólica é muito pequeno.

Anticoncepcionais orais combinados (ACO) de baixa dosagem podem ser usados sem restrições por mulheres que apresentam varizes, no entanto até a mínima dose de anticoncepcional já prejudica as varizes. O uso do ACO é restrito ou não aconselhado quando a usuária apresenta fatores de risco aliados à tendência a ter varizes, como: diabetes, fumo, hipertensão arterial ou trombose.

O risco de AVC relacionado com os anticoncepcionais orais com baixa dose de estrogênio é muito pequeno, e tanto as apresentações antigas como as mais recentes são muito seguras. No entanto, não deixe de conversar com o seu médico ginecologista para a escolha adequada do seu anticoncepcional. Ele será capaz de avaliar os fatores de risco existentes ou em potencial de cada indivíduo.

Referências:
  • “Um contraceptivo que mudou comportamentos”, Latin America 2000.
  • “O Risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico em pacientes em uso de contraceptivo oral” JAMA. 2000;248: 72-78.
  • Anticoncepção oral hormonalMinistério da Saúde.
  • Cardoso.T, et al. “ Acidente Vascular Cerebral no adulto jovem”. Acta médica portuguesa 2003.
  • Schwingl P, Ory H e Visnes CM. The American Journal of Obstetrics and Ginecology, 1999.
  • Center of Epidemiology and Health Research, Britsh Medical Journal, 1997.
  • http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?448
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