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O que houve com a minha Tireóide?

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“O meu clínico pediu que eu procurasse um endocrinologista para avaliar alguns resultados de exames: o TSH deu aumentado, o T4 deu normal e o exame anti-TPO deu 1000 acima do valor de referência. O médico disse que neste caso é melhor aguardar antes de tratar. Gostaria de saber o que significa estes exames (sei que são da tireóide) e se, mesmo o TPO estando tão alto, devo esperar para tratar. Obrigada.”

A tireóide é uma glândula constituída de dois lóbulos situados na região inferior do pescoço, um de cada lado da traquéia, ligados por uma camada fina de tecido denominado ístimo, que lhe confere o formato de uma borboleta. Os lóbulos são constituídos de folículos, que são as células funcionais da glândula tireóide.


A principal função da glândula tireóide é secretar uma quantidade suficiente de hormônios denominados Tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3), que estão diretamente envolvidos no crescimento e desenvolvimento normal do ser humano, além de regularem uma variedade de funções homeostáticas (que são para manter o corpo em condições normais), como a produção de energia e calor.

A produção de T3 e T4 depende da ingestão diária de iodo proveniente dos alimentos e da água. A ingestão de iodo diária recomendada é de 150 a 300 µg. Após a ingestão, um hormônio denominado Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH) estimula a glândula tireóide a captar esse iodo na forma de iodeto. Esse iodeto, então, passa por uma série de etapas até dar origem a estruturas denominadas MIT e DIT. Assim, o acoplamento de dois MIT formará o T4 e o acoplamento de um MIT e um DIT formará o T3.

Para que todo esse processo de produção de T3 e T4 ocorra, é necessário que alguns hormônios sinalizem para a glândula tireóide que o corpo está precisando desses hormônios, para que ela comece a sintetizá-los. Esse processo de sinalização começa no Hipotálamo, que produz um hormônio denominado TRH. O TRH estimula a Hipófise a produzir o THS que, por sua vez, estimula a Tireóide a produzir T3 e T4. Quando o T3 e T4 estão em altas concentrações no sangue, o hipotálamo e a hipófise recebem um sinal (feedback negativo) para cessar a produção de TRH e TSH, respectivamente.


Quando há um aumento excessivo da produção de hormônios T3 e T4, dizemos que o individuo está com hipertireoidismo. As principais características dessa patologia são inquietação, excitabilidade, sensibilidade ao calor, metabolismo basal alto (perda de peso), hipocolesterolemia, taquicardia, pulso rápido, hiperfagia, diarréia, fraqueza muscular, entre outras. Já quando há uma diminuição acentuada da produção de hormônios T3 e T4, dizemos que o indivíduo está com hipotireoidismo e suas principais características são lentidão mental, sonolência, sensibilidade ao frio, metabolismo basal baixo (ganho de peso), bradicardia, pulso lento, hipofagia, constipação, fraqueza muscular, entre outras. O tratamento para o hipertireoidismo é realizado através da administração de iodo radioativo, que irá destruir algumas células da glândula tireóide (para diminuir a produção de T3 e T4). Já o do hipotireoidismo é realizado através da administração de T4 sintético (levotiroxina) e, assim, repor a falta desse hormônio.

Essas alterações podem ser provenientes de uma série de patologias. No caso da autora da pergunta, o médico teve suspeita de um hipotireoidismo cuja causa poderia ser proveniente de uma doença auto-imune, em que o individuo produz anticorpos contra as células do seu próprio corpo. O exame anti-TPO (anti Tireoperoxidase) tem como objetivo verificar se o paciente possui esses auto-anticorpos que atacam e destroem a glândula tireóide.

Os exames laboratoriais da autora da pergunta apresentaram anti-TPO elevado, TSH elevado e T4 normal. A análise do anti-TPO tem como objetivo avaliar uma possível doença auto-imune, a do TSH tem como objetivo avaliar se a Hipófise está funcionando adequadamente (pois é ela quem o produz) e a do T4 tem como objetivo avaliar se a glândula tireóide está funcionando adequadamente (pois é ela quem produz o T4). Assim, embora o exame sugira que ela possua auto-anticorpos, eles ainda não provocaram efeitos negativos ao seu organismo, uma vez que a estimulação do TSH para que a tireóide produza T4 ainda está sendo correspondida nos níveis adequados. Não há como tratar a doença auto-imune, apenas os sintomas e os seus efeitos (o hipotireoidismo). Sendo assim, o tratamento com a utilização do T4 sintético provavelmente ainda não ajudaria, pois o organismo ainda está conseguindo produzi-lo adequadamente. O ideal é que a paciente mantenha o acompanhamento médico e realize esses mesmos exames laboratoriais regularmente.

Além disso, há estudos que indicam que 10% da população mesmo apresentando anti-TPO positivo, não desenvolvem alterações clínicas funcionais (ou seja, não chegam a desenvolver o hipotireoidismo). Também, o paciente que possuir certas patologias como anemia perniciosa, lúpus eritrematoso, artrite reumatóide, entre outras, pode apresentar resultado falso-positivo para o anti-TPO (ou seja, o resultado do exame dá positivo devido à alguma interferência, mas a paciente não tem os anticorpos) . Portanto, apenas o médico (endocrinologista) poderá fazer o diagnóstico correto da doença, aliando os exames laboratoriais ao quadro clínico do paciente.

Referências
  • BURTIS, C., ASHWOOD, E., BRUNS, David. TIETZ - FUNDAMENTOS DE QUÍMICA CLÍNICA. Quarta edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. 597-662p.
  • LOPES, H.J.J. - Função Tireoidiana: Principais testes laboratoriais e aplicações diagnósticas. Segunda Edição.1-27p.
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    4 comments:

    1. Muito bem explicada esta matéria.
      Ajudou bastante.
      Obrigado.

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    2. Ótimo texto. Vou ficar mais tranquila enquanto aguardo a consulta.
      Muito obrigada!

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    3. muito boa a matéria...tirei muitas dúvidas,obrigada.

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    4. Matéria muito bem elaborada, detalhada e fácil de entender, demonstrando profissionalismo. Sabemos que é uma explicação e que o importante é a orientação médica com os resultados dos exams. Obrigado e parabéns.
      Julimar

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